26 de nov. de 2004

Benedito Medrado dá entrevista sobre Campanha do Laço Branco para IbaseNet


Por: AnaCris Bittencourt e Iracema Dantas

Durante a Marcha contra Todas as Formas de Violência, um grupo de jovens chamava a atenção. Em meio à visível presença marcante de organizações feministas, homens
distribuíam material convocando participantes a entrar na luta pelo fim da violência contra as mulheres. A atividade foi realizada pelo Instituto Papai, que coordena no Brasil a Campanha do Laço Branco. A seguir, entrevista com Benedito Medrado, à frente da iniciativa no Recife.

IbaseNet - Quando surgiu essa campanha?

Benedito Medrado - A Campanha do Laço Branco nasceu no Canadá, em 1991; no Brasil começou em 1999. Seu objetivo é mostrar que a violência contra a mulher não é um problema só das mulheres, é um problema de todo mundo, é um problema da sociedade, e também dos homens. A idéia é envolver os homens em atividades pelo fim desse tipo de violência. A verdade é que mesmo os que se dizem contra a violência de gênero não trabalham politicamente, não se organizam para realmente mudar isso.

IbaseNet - O que motivou sua criação?

Benedito Medrado - Isso aconteceu porque em 1989, no Canadá, um homem entrou em uma escola politécnica e assassinou 14 mulheres a queima-roupa e depois se matou. Ele deixou uma carta dizendo que fez isso por não suportar ver mulheres fazendo tarefas antes exclusivamente realizadas por homens, estudando em um curso de engenharia que sempre foi uma área masculina. O episódio ficou conhecido como o Massacre de Montreal e gerou uma mobilização forte, primeiro no Canadá, depois em várias partes do mundo. Aqui no Brasil, a campanha atua em quatro estados: Pernambuco, São Paulo, Rio de Janeiro e Acre. O Instituto Papai, aqui de Recife, é o coordenador nacional da campanha.

IbaseNet - Como funciona?

Benedito Medrado - Essa campanha se faz por meio de uma ação midiática, visa a transformação de idéias, a transformação simbólica de amplo impacto. Mas as instituições envolvidas não se limitam a isso. É uma ação de campanha vinculada a ações de base. Trabalhamos com grupos de homens jovens em diferentes comunidades. Por isso, essa avaliação precisa considerar esse trabalho cotidiano de educação popular. Nossa idéia é trabalhar menos a idéia de ser contra a violência depois que ela já ocorreu, mas trabalhar principalmente na sensibilização de jovens do sexo masculino para evitá-la. Buscamos fazê-los entender que a violência contra a mulher não é sinônimo de masculinidade, como a maioria costuma associar.

IbaseNet - Já é possível avaliar os resultados no Brasil?

Benedito Medrado - Posso afirmar que nosso avanço tem sido grande, começamos com um grupo pequeno, aqui em Recife, em 1997, como um embrião dessa campanha. Hoje, vários jovens que fizeram parte no início formaram outro grupo, o Grupo Atuação, que visa reforçar esse trabalho de educação popular dentro das comunidades. Fizemos recentemente uma carta de adesão à campanha e conseguimos, só aqui em Recife, 6 mil assinaturas de homens; das outras cidades ainda não levantamos os números.

IbaseNet - O FSNE está contribuindo de alguma forma para fortalecer essa atuação?

Benedito Medrado - Sim, neste encontro, estamos fechando uma parceria com o Fórum de Mulheres de Pernambuco e com o Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais para que possamos fazer uma ação conjunta, sempre deixando claro que o envolvimento dos homens é fundamental. A campanha não é exclusiva para homens, mas é marcada pela voz masculina para podermos dizer que se existem muitos homens que agridem mulheres, há também muitos que não as agridem, só que eles não faziam nada e agora estão fazendo, estão discutindo esse assunto.

IbaseNet - De onde surgiu este nome, Laço Branco?

Benedito Medrado - O laço foi o símbolo eleito no Canadá depois do Massacre de Montreal. A idéia é de que os homens podiam usar esse laço como um símbolo de não-violência contra a mulher e pela paz. E é uma coisa simples, uma fita branca, dobrada, e barata. No primeiro ano da campanha, no Canadá, 1 milhão de homens passaram a usar esse símbolo.

IbaseNet - A campanha estará presente no FSM 2005?

Benedito Medrado - Sim, organizamos um seminário durante o Fórum Social Nordestino chamado Homens na Agenda das Políticas Publicas de Gênero. Foram duas mesas, uma sobre violência de gênero e a outra sobre a questão dos direitos sexuais e reprodutivos. No Fórum Social Mundial, vamos aprofundar ainda mais essa discussão. Aqui conseguimos reunir representações de vários estados do Nordeste, lá pretendemos reunir pessoas e organizações também das outras regiões.


Como aderir à campanha:

Instituto Papai (PE)
(81) 3271-4804

Instituto Promundo (RJ)
(21) 2544-3114

Instituto Noos (RJ)
(21) 2579-2357

Ecos Comunicação em Sexualidade (SP)
(11) 3255-1238

Centro de Educação para a Saúde (SP)
(11) 4990-8029

Pró-Mulher, Família e Cidadania (SP)
(11) 3812-4888

Rede Acreana de Mulheres e Homens (AC)
(68) 233-9599


Links relacionados:
http://www.lacobranco.org.br
http://www.papai.org.br/
www.promundo.org.br/materia/view
http://www.noos.org.br/
http://www.ecos.org.br
www.cesabc.org.br/index1.htm/

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