Por: AnaCris Bittencourt e Iracema Dantas
Durante a Marcha contra Todas as Formas de Violência, um
grupo de jovens chamava a atenção. Em meio à visível presença marcante de
organizações feministas, homens
distribuíam material convocando participantes a
entrar na luta pelo fim da violência contra as mulheres. A atividade foi
realizada pelo Instituto Papai, que coordena no Brasil a Campanha do Laço
Branco. A seguir, entrevista com Benedito Medrado, à frente da iniciativa no
Recife.
IbaseNet - Quando surgiu essa campanha?
Benedito Medrado - A Campanha do Laço Branco nasceu no
Canadá, em 1991; no Brasil começou em 1999. Seu objetivo é mostrar que a
violência contra a mulher não é um problema só das mulheres, é um problema de
todo mundo, é um problema da sociedade, e também dos homens. A idéia é envolver
os homens em atividades pelo fim desse tipo de violência. A verdade é que mesmo
os que se dizem contra a violência de gênero não trabalham politicamente, não
se organizam para realmente mudar isso.
IbaseNet - O que motivou sua criação?
Benedito Medrado - Isso aconteceu porque em 1989, no Canadá,
um homem entrou em uma escola politécnica e assassinou 14 mulheres a
queima-roupa e depois se matou. Ele deixou uma carta dizendo que fez isso por
não suportar ver mulheres fazendo tarefas antes exclusivamente realizadas por
homens, estudando em um curso de engenharia que sempre foi uma área masculina.
O episódio ficou conhecido como o Massacre de Montreal e gerou uma mobilização
forte, primeiro no Canadá, depois em várias partes do mundo. Aqui no Brasil, a
campanha atua em quatro estados: Pernambuco, São Paulo, Rio de Janeiro e Acre.
O Instituto Papai, aqui de Recife, é o coordenador nacional da campanha.
IbaseNet - Como funciona?
Benedito Medrado - Essa campanha se faz por meio de uma ação
midiática, visa a transformação de idéias, a transformação simbólica de amplo
impacto. Mas as instituições envolvidas não se limitam a isso. É uma ação de
campanha vinculada a ações de base. Trabalhamos com grupos de homens jovens em
diferentes comunidades. Por isso, essa avaliação precisa considerar esse
trabalho cotidiano de educação popular. Nossa idéia é trabalhar menos a idéia
de ser contra a violência depois que ela já ocorreu, mas trabalhar
principalmente na sensibilização de jovens do sexo masculino para evitá-la.
Buscamos fazê-los entender que a violência contra a mulher não é sinônimo de
masculinidade, como a maioria costuma associar.
IbaseNet - Já é possível avaliar os resultados no Brasil?
Benedito Medrado - Posso afirmar que nosso avanço tem sido
grande, começamos com um grupo pequeno, aqui em Recife, em 1997, como um
embrião dessa campanha. Hoje, vários jovens que fizeram parte no início
formaram outro grupo, o Grupo Atuação, que visa reforçar esse trabalho de
educação popular dentro das comunidades. Fizemos recentemente uma carta de
adesão à campanha e conseguimos, só aqui em Recife, 6 mil assinaturas de
homens; das outras cidades ainda não levantamos os números.
IbaseNet - O FSNE está contribuindo de alguma forma para
fortalecer essa atuação?
Benedito Medrado - Sim, neste encontro, estamos fechando uma
parceria com o Fórum de Mulheres de Pernambuco e com o Movimento de Mulheres
Trabalhadoras Rurais para que possamos fazer uma ação conjunta, sempre deixando
claro que o envolvimento dos homens é fundamental. A campanha não é exclusiva
para homens, mas é marcada pela voz masculina para podermos dizer que se
existem muitos homens que agridem mulheres, há também muitos que não as agridem,
só que eles não faziam nada e agora estão fazendo, estão discutindo esse
assunto.
IbaseNet - De onde surgiu este nome, Laço Branco?
Benedito Medrado - O laço foi o símbolo eleito no Canadá
depois do Massacre de Montreal. A idéia é de que os homens podiam usar esse
laço como um símbolo de não-violência contra a mulher e pela paz. E é uma coisa
simples, uma fita branca, dobrada, e barata. No primeiro ano da campanha, no
Canadá, 1 milhão de homens passaram a usar esse símbolo.
IbaseNet - A campanha estará presente no FSM 2005?
Benedito Medrado - Sim, organizamos um seminário durante o
Fórum Social Nordestino chamado Homens na Agenda das Políticas Publicas de
Gênero. Foram duas mesas, uma sobre violência de gênero e a outra sobre a
questão dos direitos sexuais e reprodutivos. No Fórum Social Mundial, vamos
aprofundar ainda mais essa discussão. Aqui conseguimos reunir representações de
vários estados do Nordeste, lá pretendemos reunir pessoas e organizações também
das outras regiões.
Como aderir à campanha:
Instituto Papai (PE)
(81) 3271-4804
Instituto Promundo (RJ)
(21) 2544-3114
Instituto Noos (RJ)
(21) 2579-2357
Ecos Comunicação em Sexualidade (SP)
(11) 3255-1238
Centro de Educação para a Saúde (SP)
(11) 4990-8029
Pró-Mulher, Família e Cidadania (SP)
(11) 3812-4888
Rede Acreana de Mulheres e Homens (AC)
(68)
233-9599
Links
relacionados:
http://www.lacobranco.org.br
http://www.papai.org.br/
www.promundo.org.br/materia/view
http://www.noos.org.br/
http://www.ecos.org.br
www.cesabc.org.br/index1.htm/
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