No próximo dia 10, a campanha vai promover um ato público e uma caminhada em Serra Talhada, no Sertão Central de Pernambuco. E no dia 14, organiza, em parceria com movimentos de mulheres, o seminário sobre violência contra a mulher, no Centro Integrado de Saúde Amauri de Medeiros (Cisam), em Pernambuco, que atende adolescentes e mulheres vítimas de violência sexual.
O foco dessa organização civil sem fins lucrativos é estudar a construção social do homem. Estudar e transformar. Para o instituto, a violência é um dos traços característicos da masculinidade, fruto de uma construção milenar. Esse modelo começa a se delinear quando ainda criança o homem recebe a primeira arma de brinquedo. Desde esse momento, ele é incentivado a todo tipo de comportamento machista – e nele, está a prática da violência, da guerra.
Não por coincidência, o homem está entre as maiores vítimas da violência armada – os jovens do sexo masculino entre 15 e 24 anos são os que mais morrem, e também são os que mais cometem violência – o parceiro ou companheiro é o principal agressor em 53% dos casos de ameaça com armas à integridade física de mulheres.
“Os homens sempre estiveram presentes na maior parte dos casos de violência. É preciso olhar para esse problema pela perspectiva de gênero”, diz um dos coordenadores do Instituto Papai, Benedito Medrado. Ele explica que o Instituto traz o homem para a discussão, sempre frisando que a violência contra a mulher não é um problema só delas, mas problema dos homens e da sociedade, onde são produzidas condições para a violência doméstica.
Revisando o modelo de 'macho'
“Até 1985, um dispositivo legal garantia ao homem a legítima defesa da honra. Essa cultura se mantém muito forte”, lembra Medrado. Sempre depois de estudar as origens desses males machistas, a equipe de pesquisadores parte para campo. Assim, surgiram o Grupo Atuação, no bairro da Várzea, e o Grupo de Homens Jovens de Camaragibe, que envolve cerca de 30 jovens do sexo masculino, sobretudo negros e pobres, moradores da periferia de Recife. Atividades como oficinas, palestras e produção de peças teatro atraem esses jovens para a discussão sobre a violência contra a mulher, a paternidade, drogas e Aids. No foco dessas questões, a construção da masculinidade.
“Cresci ouvindo na minha comunidade o vizinho espancar sua mulher. Todo mundo dizia aquele ditado que em briga de marido mulher, ninguém mete a colher”, conta Flávio Galdino, 20 anos, morador do bairro da Várzea e membro do Grupo Atuação. Já há dois anos no grupo, Galdino tornou-se um agente multiplicador do combate ao machismo. “Quando um colega meu é xingado pela mulher, ele acha que precisa fazer alguma coisa, não pode deixar passar em branco. Tem que ser o maioral”, conta Galdino. O que fazer? “A gente prega a conversa, a conciliação”, ensina o rapaz.
A proposta do Instituto Papai de revisar o modelo do “macho” propõe uma abordagem feminista da igualdade de gênero, onde homem e mulher saem ganhando. “Tentamos mostrar a esses jovens que esse modelo sempre é prejudicial às mulheres, mas também aos homens”, diz Benedito Medrado. Não há fórmula simples para transformar um modelo de raízes tão profundas. “O que propomos não é tirar o homem e colocar a mulher. Mas entender que o feminismo é uma idéia, uma proposta, e não um corpo.” É um caminho possível, acredita Medrado.
Fonte: http://ww.desarme.org.br
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